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Páginas dos amigos da Laia

sábado, 21 de agosto de 2010

Vídeo Índio Brasil - um balanço geral

Produzir a Vídeo Índio Brasil foi, ao mesmo tempo, cansativo e extremamente prazeroso. Mas quando olhamos para trás e vemos o quanto a mostra acrescentou a quem a assistiu e de alguma forma contribuiu com ela, as dificuldades agora parecem bem pequenas. Gostaria de ressaltar alguns momentos particularmente especiais da Vídeo Índio Brasil 2010 em Camaragibe:

- O dia de estréia. Getúlio, bróder que sempre monta o som da Sambada da Laia, nos ensinou como operar o equipamento de som. Nosso inicial desapontamento com a pouca quantidade de pessoas e posterior encantamento com a qualidade dos vídeos (Já me transformei em imagem e De volta à terra boa). A exibição de Cacique Luna - guerreiro dos caboclinhos,  já conhecido do público do Cineclube da Laia e que mais uma vez causou comoção nos presentes. A fala do professor Daivison Bandeira e seu convite de levar a mostra ao Colégio Oscar Carneiro, que fica na mesma Vila da Fábrica onde está o nosso querido Espaço da Gruta, administrado pelo ainda mais querido Márcio, sempre muito empolgado com a movimentação audiovisual em seu espaço. A apresentação do Caboclinho Tapuias Camarás de Camaragibe, que explicou com toda boa vontade a um público agora maior o signficado dos ritmos tocados pelo caboclinho.

- O segundo dia. O professor Edson Silva, da UFPE, nosso convidado da noite, trouxe a sua companheira, Tânia, também estudiosa de questões indígenas. Foi um bate-papo informal e ao mesmo tempo esclarecedor para pessoas mais chegadas do Laia e Ponto de Cultura Tecer. Edson fala muito que precisamos intercambiar saberes com os povos indígenas de Pernambuco. Em seguida, a exibição de um dos melhores filmes da Vídeo Índio Brasil,Corumbiara.

- O terceiro dia da mostra, uma segunda-feira. Um toró daqueles assolando o Recife e Região Metropolitana. Resultado: ninguém na sessão, exceto as pessoas da equipe de organização. Foi uma sessão entre amigos, com direito a linguiça calabresa, queijo coalho, tomate, cebola e pimentão.  Os filmes exibidos foram Kuhi ikugü, os Kuikuro se apresentam e Pi’õnhitsi, mulheres Xavante sem nome.

- Quarto dia. A mostra se muda para para a Escola Oscar Carneiro, da rede pública de ensino do Governo do Estado. A sessão é voltada para adolescentes do Ensino Médio. Antes das 17h30, início da mostra, eles e elas chegam com suas cadeiras e lotam o pátio interno do colégio para assistir aos filmes Pajerama, Porahey e o Cheiro de pequi.

- No quinto dia da VIB, segundo na Oscar Carneiro, alunos e alunas se mostram tão interessados na iniciativa que até se solidarizam com a montagem dos equipamentos. Os vídeo projetado foi Mokoi tekoá petei jeguatá - duas aldeias, uma caminhada, comovente relato de duas tribos do Rio Grande Sul que tiveram seu território desmatado e agora têm de sobreviver vendendo artesanato em grandes cidades. Após a sessão, Patrícia Araújo, da equipe do Laia e do Ponto de Cultura Tecer, puxou colocações muito sensatas sobre preservação ambiental.

- Exibição de Kré e Kene Yuxi, as voltas do kene. A repercussão da mostra no meio escolar foi tamanha a ponto de duas escolas (Anglo e Frei Caneca) convidarem a organização da VIB Camaragibe a realizarem sessões extras em seus espaços. 

- Pela manhã da sexta-feira, sétimo dia da mostra, a VIB foi ao Colégio Anglo para exibir os filmes da primeira sessão (Já me transformei em imagemDe volta à terra boa e Cacique Luna – guerreiro dos caboclinhos). A projeção não pôde ser concluída por conta de uma queda de energia. A exibição de uma sessão extra da VIB no outro colégio interessado, o Frei Caneca, ainda não aconteceu está sendo articulada pela equipe do Ponto de Cultura Tecer/Laboratório de Intervenção Artística.

 - A programação normal prosseguiu no Colégio Oscar Carneiro, às 17h30. Além dos vídeos da programação nacional (Indígenas digitais e A gente luta, mas come fruta), foi exibido um trecho do vídeo Da pedra da letra à pedra da mesa, que mostra como 09 aldeias indígenas de Pernambuco já estão sendo afetadas pela transposição do Rio São Francisco. Em seguida, apresentaram-se os músicos Alexandre Salomão e João Alencar, que tocaram, respectivamente, didjeridu (instrumento de sopro dos aborígenes australianos) e percussão (efeitos e timbau). A apresentação durou cerca de 15 minutos e foi contemplada com bastante atenção por todas as pessoas presentes (estudantes, professores, convidados e equipe de produção, que inclusive interagiram com os músicos através de palmas. Ao final, músicos e platéia emocionadas, e uma forte onda de aplausos.

- Logo depois, Cláudia Truká, liderança do Povo Truká, cujo território está situado no sertão pernambucano, iniciou sua fala. Cláudia cativou a atenção de todos os presentes, respondeu às perguntas do estudantes e abordou assuntos como a transposição do Rio São Francisco, a atual política do Governo Federal em relação aos indígenas e os costumes do seu povo. Em seguida, o professor Daivison Bandeira afirmou a sua satisfação com a vinda da VIB ao colégio Oscar Carneiro. Daivison enfatizou que os alunos estavam comentando bastante sobre a mostra tanto em sala de aula quanto nos corredores.

- O penúltimo dia se encerrou com as colocações de Sérgio Kiriri, do Povo Kiriri da Bahia e Fábio Menezes, do Vídeo nas Aldeias. Sérgio fez uma breve, mas bela fala, a partir do vídeo A gente luta, mas come fruta: “assim como o curumim do filme, devemos aprender a cultivar: sementes, idéias e sonhos”. Fábio Menezes explicou como surgiu o trabalho da ONG Vídeo nas Aldeias e parabenizou o intercâmbio da Vídeo Índio Brasil de Camaragibe com a escola Oscar Carneiro. Fábio trouxe quatro cadernos do Vídeo nas Aldeias que reúnem texts sobre o fazer audiovisual dos indígenas. Um foi para a biblioteca da escola, outro para o Ponto de Cultura Tecer/Laboratório de Intervenção Artística e os outros dois foram sorteados entre os alunos. Apesar de ter terminado mais de 21h (quase quatro horas após o início), muitos alunos não arredaram o pé. Esse foi o dia de maior público contabilizado na mostra: cerca de 60 pessoas.

- Sábado, 07/08, último dia da VIB. E também Dia da Solidariedade ao Povo Xukuru. Sensível à causa, a VIB Camaragibe integrou parte das atividades do Dia da Solidariedade. promovido pela Rede de Apoio ao Povo Xukuru. As atividades começaram às 15h, com intervenção do grafiteiro Nino, do Coletivo Mangue Crew, no Espaço da Gruta. A projeção do último filme da mostra, o longa de ficção Terra Vermelha, teve início às 17h30. Poucos minutos depois, chegaram ao local oito representantes do Povo Xukuru, uma representante do Conselho Indígena Missionário (Cimi) e outra do Centro de Cultura Luiz Freire. Após a exibição, Manuela Schillaci, do Cimi, pontuou a semelhança da situação do povo que aparece no filme, os Guarani-Kaiowá com os Xukuru, pois ambos sofrem com a invasão e especulação de suas terras por fazendeiros.

- Ednaldo, representante Xukuru, afirmou que “tentaram o cortar o mal pela raiz” dos Xukuru, ou seja, desarticular o povo através do assassinato de sua liderança mais importante, o Cacique Chicão, da mesma maneira como aconteceu com os Guarani-Kaiowá. Ednaldo ressaltou que tal ato não conseguiu desarticular os Xukurus, pois esse povo continua lutando firmemente pelos seus direitos. Lara Erendira, do Centro de Cultura Luiz Freire, ressaltou que o Povo Xukuru está com mais de 90% de seu território assegurado pela legislação.

 - Para fechar com chave de ouro a programação do última dia da VIB Camaragibe, os indígenas do Povo Xukuru fizeram todas as 25 pessoas presentes dançarem ao som de seu contagiante samba de coco, comandado pelo Mestre Pirrila.

 Considerações finais: Acreditamos que a realização da Vídeo Índio Brasil proporcionou o acesso a um conteúdo audiovisual que proporciona reflexões de fundamental importância. Através dos vídeos e debates, pudemos conhecer melhor a realidade dos povos indígenas do Brasil, rever posicionamentos, desfazer mitos e preconceitos acerca dos indígenas. E também nos solidarizar com a luta desses povos, que ainda continuam sendo alvo de injustiças e descriminação. Além disso, fortalecemos a nossa prática cineclubista. Estamos planejando realizar o nosso Cine Mais Cultura (fomos contemplados com edital do Estado de Pernambuco e estamos aguardando a capacitação e a vinda dos equipamentos) itinerante em várias escolas de Camaragibe. Através dos contatos travados com as pessoas convidadas para os debates, como Cláudia Truká, estamos planejando escrever um projeto de exibição de vídeos indígenas em aldeias do Estado de Pernambuco.   

Agradecimentos: a todos e todas que contribuíram com a realização da VIB Camaragibe: Marcone Alves (carregador oficial do som e nosso eterno mestre de cerimônia), Patrícia Araújo (fez de tudo: montou equipamento, apresentou a mostra, puxou debate), Natália Lopes (grande articuladora, entrou em contato com o Cimi e teve a grande sacada da apresentação musical com didjeridu), Ludimilla Carvalho (assessora de imprensa, imprimiu os certificados dos convidados, além de ser a redatora oficial do nosso blog) Isabella França (distribuiu cartazes, montou equipamento e fez a providencial calabresa) Aline Silva (fotógrafa oficial), Márcio (sua receptividade, sua Gruta e sua macaxeira com carne de sol e queijo coalho são tudo o que há), Negão (montador de equipamento e de longe o mais instigado da equipe), Daivison Bandeira (mentor da brilhante idéia da ida da VIB à escola Oscar Carneiro), Camila Santana (motorista), Manuela (pelo seu empenho em articular a VIB Camaragibe ao Dia da Solidariedade Xukuru e seu esforço em trazer Cláudia Truká).

Muitas satisfações,

Raquel Santana. 

Um comentário:

  1. Minha grande amiga e irmã Raquel Santana. Grande articuladora, redatora, fotógrafa, musicista, cantora e tantos outros adjetivos.

    Você mais ainda está de parabéns por essa mostra tão importante para nós e para o público. E esse relatório? Emocionante. Não tenho mais palavras. Continue ensinando Raquel. Estamos aprendendo.

    Grande abraço a toda nossa equipe. Vocês são muito fofos!

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