Febre de longas pernambucanos
Claudio Assis começa a rodar a partir de hoje seu terceiro filme, tendo no elenco Irandhir Costa, Nanda Costa, Matheus Nachtergaele
André Dib
andredib.pe@dabr.com.br
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Nove anos depois de Amarelo manga, Cláudio Assis volta a filmar em Olinda e Recife. A partir de hoje, a produção de Febre do rato, terceiro longa-metragem do diretor pernambucano, movimenta a cidade com uma equipe de profissionais cariocas e pernambucanos. Durante a semana de ensaios, o elenco formado por Irandhir Santos, Nanda Costa, Matheus Nachtergaele, Mariana Nunes e Juliano Cazarré circulou em eventos e bares. No que diz o burburinho, Nachtergaele já está com o personagem incorporado e assim deve continuar até o começo de outubro, quando terminam as filmagens.
Contemplado em 2005 pelo fundo holandês Hubert Bals para desenvolvimento de projetos, Febre do rato tem acumulado patrocínios e apoios nacionais e estrangeiros, como a empresa argentina IMPSA. "Empresários entenderam que dá pra investir no cinema de ideias, independente do retorno financeiro", diz Júlia. "Nesse processo, a Fundarpe foi fundamental para a gente poder andar e ganhar os grandes editais, concorrendo com filmes do Brasil inteiro", complementa Cláudio. Com 90% do orçamento captado, falta garantir a finalização. "A Prefeitura do Recife ainda não oficializou, mas garantiu que vai nos apoiar".
Durante a prova de figurino, encontramos um Irandhir febril, possuído pelo poeta Zizo, personagem principal do novo filme. "Se tem algo que resume Zizo, é a atitude", disse o ator, que acaba de rodar O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho, e a partir de outubro poderá ser visto em Tropa de elite 2. Semana passada, Irandhir conheceu Miró, com quem descobriu afinidades. "O destino trouxe Miró e fiquei com ele enquanto pude. Se eu tiver 1/3 dele no meu personagem estarei muito feliz". Para compor Zizo, Irandhir tem dormido e acordado com João Cabral, Drummond, Pedro Tierra e Murilo Mendes. No entanto, todas as poesias do filme são originais, escritas por Hilton Lacerda.
Boa parte de Febre do rato será rodada na Fábrica Tacaruna, que será morada de um triângulo amoroso vivido por Juliano Cazarré, Mariana Nunes e Vítor Araújo, que estreia como ator. Afora o elenco principal, Jones Melo, Paulina Albuquerque, Sâmara Cipriano, Chiquinho Serra Velho, Hugo Gila e a paulista Tânia Moreno prometem gerar cenas que, como nos demais filmes de Cláudio, ainda vão dar o que falar.
Entre atores, figurantes e participações especiais, serão mais de 400 pessoas. Um churrasco de Páscoa na casa de Zizo reunirá Jommard Muniz de Britto, Gaspar Andrade, Fernando Peres e Irma Brown, Wilma Gomes (ex-miss Pernambuco), LalaK e Carlos Carvalho. Quero reunir pessoas que na vida real seriam amigos do poeta e reunir a nossa cena cultural, uma metalinguagem a serviço do cinema", diz Rutílio de Oliveira, responsável pelo casting. Miró, Xico Sá, Roger de Renor e João do Morro também serão convidados. Evocados no título, ratazanas comuns nas alamedas da cidade não devem faltar. Mas a "febre do rato" não tem nada a ver com a doença provocada pelos roedores, mas com a expressão pernambucana para determinado estado de espírito. "É como se a pessoa azougada, com atitude para o bem ou para o mal, com vontade de lutar por alguma coisa.
Entrevista // Claudio Assis
Após quase uma década, você volta a usar Olinda como cenário. Qual sua relação com a cidade?
Minha produtora funciona há 15 anos em Olinda, onde fizemos muitos curtas. Sempre quis fazer um longa aqui, em Amarelo manga filmamos nos Quatro Cantos, que é muito cinematográfico. E quando tive a ideia, imaginei o poeta como sendo de Olinda. Ia trazer o filme todo pra cá, queremos falar do Recife, que é um universo de contradições de cidade grande, que contém um mundo.
Como surgiu Febre do rato?
A ideia veio durante a filmagem de Amarelo manga, em Olinda, quando inventei um personagem com um amigo meu. Ele foi crescendo, chamei Hilton Lacerda e as ideias foram chegando, só naquele momento pensamos em 17 sequências.
Você descreve o filme como romântico, sobre pessoas apaixonadas. Seria uma mudança de rota, depois de dirigir dois filmes que mostram a vida cruel?
Pelo contrário, é a afirmação disso tudo. Se as pessoas não viram amor nos meus outros filmes, precisam ver de novo até encontrar. Tudo que já foidito será mostrado de outra forma, com poesia, de uma maneira elegante, generosa, para que seja um filme prazeiroso. Mas não mudei nada, o assunto é o mesmo, só que contado de forma diferente.
Recife tem uma tradição de poetas de rua, seu poeta se conecta com esse cenário?
Zizo não é marginal, é revolucionário. Existe o Zizo, que é meu amigo desde os anos 1980, a quem estamos fazendo homenagem, mas não tem nada a ver com a vida dele. No filme, Zizo cria um mundo onde as pessoas são iguais: negros, gordos, magros, brancos, putas, travestis. Se eles transam ou casam, se separam de um grande amor ou ficam nele pra sempre, não importa, temos que respeitar as pessoas do jeito que são. E um poeta pode tudo, tem liberdade pra falar e fazer o que quiser.
Cinema é a sua forma de fazer poesia?
Lógico. E o poeta sou eu. Essa é minha forma de dizer o que eu acho do mund
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