CAMARAGIBE - PERNAMBUCO - BRASIL
cineclubedalaia@gmail.com

Páginas dos amigos da Laia

domingo, 8 de agosto de 2010

3° Festival de Cinema de Triunfo: balanço


Terminou ontem a terceira edição do Festival de Cinema de Triunfo. O que mais chamou a atenção foi a seleção dos filmes concorrentes, bastante equilibrada com produções de diversos cantos do país. A variedade também estava nos temas, formatos e propostas dos filmes. Animação, ficção, documentário..tinha muita coisa boa pra se ver. Gostaria de destacar as produções mais simples, no que se refere ao formato da narrativa, mas que trouxeram à tona temas tocantes como preconceito, infância,religiosidade e relacionamentos (familiares, amorosos...). Com essas características, chamaram a atenção do público curtas como Laurita (2009/SP/direção:Roney Freitas), história tocante sobre uma menina instrospectiva e tímida que está entrando na adolescência, que trata essa fase da vida de uma forma bastante sutil e nada clichê. Rec, pause (2009/SP/direção: Bruno Carneiro), que também tem como tema subjacente a infância, mas se foca em confllitos familiares captados por acidente por uma câmera de vídeo. As cenas inicias do curta, mostram uma festa de aniversário infantil de uma maneira tão poética, que aos poucos quando a temática vai se revelando ao público, ficamos chocados com as afirmações dos protagonistas, extremamente desconcertantes para o contexto da situação. Na mesma linha "dilemas da juventude" vai O coração às vezes pára de bater, de Maria Camargo (2009/RJ). Protagonizado por adolescentes em situações corriqueiras do cotidiano, como andar de skate, a diretora consegue discutir temas "adultos" como morte, responsabilidade e respeito ao outro. Um filme belíssimo muito aplaudido pela população local. Por último, gostaria de lembrar Ave maria ou mãe dos sertanejos de Camilo Cavalcanti, que levou o prêmio de melhor fotografia. O filme não tem uma fala sequer, mas consegue através de belas imagens, retratar a verdadeira devoção que envolve o momento em que toca a Ave maria, nas rádios locais. A música-reza (o seria reza-cantada?), interpretada por Luiz Gonzaga transfere para as cenas captadas no cotidiano dos sertanejos pernambucanos um sentido quase místico, da relação do povo do interior com a religião. Percebemos que a chamada religiosidade do sertanejo não é somente um clichê histórico-cultural. Ainda em relação aos curtas é impossível não falar de Recife frio. O filme de Kléber Mendonça é provocativo, satírico, bem produzido, e tem um roteiro pra lá de inteligente. Tem arrebatado diversos prêmios em festivais pelo resto do Brasil e em Triunfo não foi diferente. Ganhou melhor direção e roteiro de curta-metragem, melhor filme pelo júri popular e ainda melhor filme para reflexão, concedido pela FEPEC. O protagonista do filme foi pego desprevinido pela quantidade de prêmios que precisou receber (Kléber Mendonça está filmando O som ao redor, seu primeiro longa e não estava presente), e ensaiou até uma imitação do próprio Kléber, brincando com o discurso de agradecimento. Confira todos os premiados aqui.

Longas - Entre os longas, o que mais me chamou a atenção foi Patativa do Assaré - Ave Poesia, dirigido por Rosemberg Cariry, filho de Patativa. Confesso que conheço pouco a poesia do cearense, mas o filme constrói através dos depoimentos uma imagem tão forte e emotiva de Patativa que é impossível não se sensibilizar. Teve gente chorando na sessão. Sobretudo nos momentos em que o próprio aparecia recitando versos bem construídos, que tratavam de uma infinidade de assuntos, que iam desde o amor pela mulher ou a morte da filha, até corrupção política. O grande mérito do filme é descortinar o universo rico da obra de Patativa, sem cair na forma fácil dos documentários que costuram um sem-número de depoimentos, datas e fatos, deixando o público entediado. Além disso, conta a história do poeta com extrema sensibilidade. Levou pra casa uma menção honrosa da Fundarpe e o prêmio de melhor pesquisa de longa-metragem. Por fim, fica aqui o agradecimento à cidade de Triunfo e aos seus moradores, pela hospitalidade e simpatia. Uma cidade pra lá de charmosa, escondida no sertão do Pajeú.

Ludimilla Carvalho

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Foi emocionante ouvir chamarem ao palco do encerramento do Festival de Triunfo, o nome de Lobão, representante do nosso querido Cineclube da Laia, que fez parte do júri da FEPEC.

    Mais um passo para nosso cine é essa crônica de Ludimilla, gestora de nosso blog, e que focou seu olhar não só nos filmes premiados mas também em outros que trouxeram olhares sensíveis do cotidiano... sinal de que estamos no caminho certo. Pé na estrada.

    Ah, a sessão do Cineclube da Laia em setembro trará "Patativa do Assaré - Ave Poesia", vou dizendo logo!

    ResponderExcluir